quinta-feira, março 22, 2007

Sempre é tempo

Amigos

semanalmente escrevo uma crônica no jornal Tribuna da Costa sobre da minha experiencia em viver deste lado do rio...

Quero dividir com vocês a crônica que será publicada no proximo domingo, pois tem um lado positivo e outro triste. O positivo é uma ação que estamos começando a desenvolver junto a comunidade, o triste é uma realidade que todos conhecem.




DO OUTRO LADO DO RIO
Por Léa Penteado
Sempre é tempo



Há alguns anos aprendi a curtir o movimento da rede. Não estou falando da rede dos pescadores, nem a de tecido que penduro entre as árvores do jardim para me refrescar na brisa da tarde. Falo da rede que faz funcionar esse universo que reúne amigos, sentimentos, intenções e desejos. Com a internet esta rede se multiplica e às vezes nem chegamos a conhecer pessoalmente aquele que nos faz gentilezas, o que vem a ser o caso desta crônica. Em março do ano passado procurando na internet algum material para enriquecer o estudo das crianças da Escola Municipal de Santo André através do site da Fundação Maurício de Sousa fui direcionada a algumas empresas que fazem cartilhas e revistas educativas com os personagens da Turma da Mônica. Enviei um email dia 29 de março à Abiclor (Associação Brasileira da Indústria de Álcalis, Cloro e Derivados) solicitando alguns exemplares de revistas que falassem sobre o meio ambiente para distribuição na escola. Neste email contei também sobre a nossa vila, a preocupação com a formação das crianças e recebi uma resposta gentil do Sr. Nelson Felipe lamentando que as publicações estivessem esgotadas. Em dezembro do ano passado, pouco antes do Natal, recebi um novo email do Sr. Nelson, com a seguinte mensagem “ Sra. Léa, Sempre é tempo. A sra. gostaria de receber algumas revistas da Turma da Mônica? Acabamos de fazer uma reimpressão. De quantas precisaria?” Respondi imediatamente, afinal era mais um presente de Papai Noel. Dias depois recebi as revistas e fiquei aguardando um momento especial para distribuir às crianças. E na quinta-feira passada, dia 22 de março, Dia Mundial da Água foi o momento perfeito. Afinal, as revistas contam através de aventuras da Mônica, Cebolinha, Magli e Cascão sobre “Água Boa Pra beber”. Confesso que não tenho muita didática para crianças. Meu trânsito é melhor com adolescentes, por isso pedi ajuda à Cláudia Schembri, que também fez a foto desta crônica, pois com formação superior em pedagogia e pós em relações humanas, tem linguagem própria para abrir um diálogo com as crianças. Mais do que distribuir revistinhas o nosso objetivo era conscientizar sobre a importância da água no planeta, os cuidados com os rios, o meio ambiente, com a higiene e saúde, principalmente em nossa vila que ainda não possui saneamento básico. Quem mora aqui sabe da deficiência de sanitários. Sei que é duro, mas é a realidade: muitas casas não têm banheiros. Já fizemos uma pesquisa onde estes dados se destacam e cada vez que tocamos neste assunto em reuniões na Associação Pró Cultura e Turismo Santo André-Bahia aumenta nossa preocupação. É como uma ferida aberta que preferimos esconder diante da incapacidade de curar. Acontece que não esperávamos que as crianças na escola de forma inocente relatassem a fragilidade suas casas. Fomos apenas festejar a água e quando falamos em preservação do nosso rio Acuba o tema surgiu espontaneamente em todas as salas de aula, vindos de crianças de todas as idades. Sei que a partir de hoje mais uma semente foi plantada no coração das crianças da Escola Municipal de Santo André que vão olhar o rio Acuba com mais carinho, prestar atenção na água que bebem, mas este é um trabalho que não fica por aqui. Ainda há muito que fazer e de verdade, eu queria mesmo era poder destampar esta ferida e buscar a cura. Pois como escreveu o Nelson Felipe, amigo que não conheço, é sempre tempo.


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